Tipos de IDR e DDR
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ToggleSe você trabalha ou estuda na área elétrica, entender a diferença entre IDR e DDR é fundamental para projetar circuitos seguros, evitar multas de conformidade e, principalmente, salvar vidas.
Os disjuntores diferenciais residuais – popularmente chamados de DR – são exigência da NBR 5410 em praticamente todas as instalações novas ou reformadas, e existem em uma variedade de sensibilidades, classes e configurações que confundem até profissionais experientes.
Neste artigo aprofundado você vai descobrir, em linguagem direta e profissional, quando usar dispositivo de 30 mA ou 300 mA, o que muda entre modelos bipolares e tetrapolares, como escolher entre as classes A e AC e ainda conhecer recursos menos comentados, como o neutro invertido.
Ao final, você será capaz de selecionar, dimensionar e instalar qualquer IDR e DDR com segurança, evitando erros que geram desligamentos, prejuízos ou choques. Prepare-se: são mais de 2000 palavras de conteúdo técnico, exemplos práticos, tabelas comparativas e respostas às dúvidas mais frequentes.
1. Fundamentos de proteção diferencial residual
O que é um DR na prática?
Um disjuntor diferencial residual, seja IDR (Interruptor Diferencial Residual) ou DDR (Disjuntor Diferencial Residual), monitora continuamente a soma vetorial das correntes que entram e saem de um circuito.
Qualquer diferença indica fuga para a terra – situação típica de choque elétrico ou isolamento danificado. Quando a fuga atinge o valor nominal (30 mA, 300 mA etc.), o DR desarma em milissegundos, interrompendo o circuito antes que a energia cause fibrilação ventricular ou incêndio.
IDR versus DDR: existe diferença real?
No mercado brasileiro, os termos se confundem. IDR é tecnicamente um dispositivo de manobra, sem proteção contra sobrecorrente; já o DDR agrega a função de disjuntor termomagnético.
Ou seja, o IDR protege somente contra fuga de corrente, enquanto o DDR protege contra fuga, sobrecarga e curto-circuito. Apesar disso, muitos fabricantes e lojistas usam “DR” para ambos.
Dominar essa distinção evita a instalação de dois equipamentos quando um DDR seria suficiente e impede deixar o circuito vulnerável quando um IDR isolado é inadequado.
Princípio de funcionamento interno
No núcleo do DR há um transformador toroidal onde passam condutores fase e neutro. A corrente diferencial induz fluxo magnético estacionário que aciona um relé e leva ao disparo mecânico.
O tempo típico de atuação é <30 ms, crucial para limitar a energia de choque a menos de 10 J. Ensaios de laboratório seguem a IEC 61008 (IDR) e IEC 61009 (DDR).
2. Grau de sensibilidade: 30 mA ou 300 mA?
Proteção de pessoas – 30 mA
Modelos de 30 mA são obrigatórios em pontos de uso final acessíveis: tomadas em áreas internas, circuitos de chuveiros, aquecedores, máquinas de lavar e luminárias externas.
A NBR 5410 impõe esse limite porque correntes acima de 50 mA podem provocar fibrilação ventricular em poucos segundos. Por isso, dizemos que 30 mA é nível de segurança para vida humana.
Proteção patrimonial – 100 mA a 500 mA
Correntes diferenciais mais altas, como 300 mA, não protegem o corpo humano, mas reduzem risco de incêndio. Elas são indicadas para painéis de entrada de indústrias, longas linhas subterrâneas, motores trifásicos de grande porte e transformadores.
Nesses cenários, pequenas correntes de fuga são inevitáveis e um DR muito sensível causaria desligamentos intempestivos.
Impacto em instalações mistas
É comum combinar DR de 300 mA a montante como dispositivo geral e DRs de 30 mA a jusante em circuitos específicos; essa coordenação mantém seletividade.
Para dimensionar, some correntes de fuga esperadas (≈1 mA/kVA para motores) e aplique fator de diversidade 0,6 antes de escolher o valor nominal.
3. Configurações polares: bipolar, tetrapolar e neutro invertido
Modelo bipolar
No sistema monofásico 127/220 V, o IDR bipolar possui duas entradas: fase e neutro. Ele mede diferença entre os condutores e desliga ambos simultaneamente.
A facilidade de instalação e preço reduzido fazem dele escolha padrão em casas e pequenos comércios.
Modelo tetrapolar
Em redes trifásicas 220/380 V ou 127/220 V, o tetrapolar incorpora três fases + neutro, totalizando quatro polos.
Mesmo que o circuito alimentado seja trifásico sem neutro, a presença do condutor N no DR garante detecção de desequilíbrios. Além disso, acelera manutenção: basta um dr tetrapolar, sem somar módulos extras.
Neutro invertido (N+3)
A linha JNG apresenta a variante neutro à esquerda ou invertido, útil quando o barramento do quadro já está organizado dessa forma.
Evita atravessamento de cabos e melhora a dissipação térmica. A performance elétrica é idêntica, mas o instalador ganha tempo e estética.
4. Classes de detecção: A versus AC
Classe AC
A maioria dos IDR e DDR vendidos em home centers é Classe AC. Eles detectam apenas correntes diferenciais senoidais puras, típicas de cargas resistivas: chuveiros, lâmpadas incandescentes, aquecedores e fornos.
Apesar de baratos, podem falhar em circuitos com eletrônica de potência, pois a corrente de fuga tende a ter componente contínua pulsante que “engana” o toroidal.
Classe A
Equipamentos Classe A reconhecem correntes alternadas e pulsantes com componente contínua até 6 mA.
São indicados para tomadas onde se conectam computadores, fontes chaveadas, inversores de velocidade, máquinas de solda e carregadores de veículo elétrico. O custo é de 30 % a 50 % superior, mas a proteção é confiável em ambientes modernos.
Quando escolher cada um?
- Residências padrão sem muitos eletrônicos: Classe AC em circuitos de iluminação e chuveiros; Classe A em tomadas gourmet ou home office.
- Edifícios corporativos: priorize Classe A em todos os circuitos de tomadas.
- Industrial com VFDs: use Classe A ou até Classe B (detecção total DC, não abordada aqui).
- Sistemas fotovoltaicos: inversores geram harmônicos – Classe A na saída AC.
- Hospitais: norma NBR 13534 pede Classe A em áreas críticas.
5. Aplicações práticas segundo a NBR 5410
Exigências normativas
A NBR 5410/2004 determina que todos os pontos de uso de corrente até 32 A em áreas internas ou externas de residências sejam protegidos por DR de alta sensibilidade (≤30 mA).
Também obriga proteção de circuitos de chuveiros, condicionadores de ar, aquecedores e tomadas de áreas molhadas, independentemente da corrente nominal.
Topologias recomendadas
- Quadro residencial pequeno: IDR bipolar 30 mA geral, seguido de disjuntores termomagnéticos por circuito.
- Quadro residencial maior: DDR bipolar 30 mA em cada circuito de uso específico, garantindo seletividade.
- Condomínio vertical: DR tetrapolar 300 mA na entrada de cada coluna montante + IDRs individuais 30 mA em apartamentos.
- Comércio com TI: Classe A tetrapolar 30 mA nos racks, Classe AC em iluminação.
- Indústria alimentícia: DDR tetrapolar 300 mA na entrada geral, seguido de IDRs 30 mA para bancadas de manutenção.
Tabela comparativa de seleção rápida
| Tipo de DR | Corrente de disparo | Aplicação típica | 
|---|---|---|
| IDR Bipolar Classe AC | 30 mA | Tomadas residenciais comuns | 
| IDR Tetrapolar Classe A | 30 mA | Escritórios com computadores | 
| DDR Bipolar Classe AC | 30 mA | Quadros compactos de apartamentos | 
| DDR Tetrapolar Classe A | 30 mA | Racks de TI e datacenters | 
| IDR Tetrapolar Classe AC | 300 mA | Painéis de entrada industrial | 
| IDR Bipolar Classe AC Neutro Invertido | 30 mA | Quadros retrofit com barramento N à esquerda | 
6. Seleção, instalação e manutenção: melhores práticas
Checklist de escolha
- Mapeie o regime da rede: monofásico ou trifásico.
- Determine a sensibilidade: proteção de pessoas (30 mA) ou patrimônio (300 mA).
- Classifique as cargas: eletrônica de potência? Escolha Classe A.
- Defina a função de sobrecorrente: combine disjuntor + IDR ou adote DDR.
- Verifique a curva de seletividade com outros DRs a montante.
- Considere espaço físico no quadro e padronização de bornes.
- Cheque certificação Inmetro e garantia do fabricante.
Instalação correta
- Mantenha condutores fase e neutro passando pelo mesmo toroidal; jamais compartilhe neutro após o DR.
- Aperte terminais no torque especificado (geralmente 2,0 N·m).
- Evite cabos paralelos sem isolamento entre DRs para não gerar correntes circulantes.
- Teste o botão “T” mensalmente; simula fuga e garante mecanismo ativo.
- Registre data de instalação e último teste para auditorias.
Manutenção e diagnóstico
Desligamentos frequentes podem indicar fuga real ou DR defeituoso. Use megôhmetro a 500 V para medir isolamento e localize o ponto crítico.
Em painéis industriais, agende termografia: aquecimento excessivo afrouxa bornes e causa disparos. Substitua o equipamento se a curva-tempo exceder 40 ms em ensaio de 1×In (norma IEC).
1. Neutro compartilhado pós-DR
2. Condutor terra passado pelo toroidal
3. Cabo mal apertado gerando microarcos
4. DR Classe AC em inversores
5. Sensibilidade insuficiente (>300 mA) para proteção humana
Perguntas frequentes (FAQ)
1. Posso substituir um disjuntor termomagnético por um IDR?
Não. O IDR protege apenas contra fugas de corrente; você continuará vulnerável a curtos e sobrecargas. Use disjuntor + IDR ou DDR.
2. DR de 30 mA é obrigatório em circuito de ar-condicionado split 12 000 BTU?
Sim, se a instalação for residencial ou comercial leve e o circuito atender pontos de tomada ≤32 A. A NBR 5410 não isenta aparelhos fixos.
3. Classe A é compatível com cargas puramente resistivas?
Sim. Um DR Classe A funciona também em cargas senoidais; ele apenas oferece proteção extra para correntes pulsantes.
4. Como testar seletividade entre DRs de 30 mA e 300 mA?
O DR de menor sensibilidade deve estar a jusante e possuir tempo de disparo mais rápido. Ensaios de laboratório com injetor diferencial simulam fuga e medem tempo.
5. DDR ocupa mais espaço no trilho DIN?
Normalmente, sim. Um DDR bipolar equivale a quatro módulos, enquanto um disjuntor + IDR ocupa três. Avalie o quadro.
6. O botão “Teste” estraga o DR se acionado todo mês?
Pelo contrário. O fabricante recomenda teste periódico para evitar emperramento mecânico. Não reduz vida útil.
7. Posso usar DR em circuito de iluminação LED
Recomendável e permitido. No entanto, escolha Classe A para evitar disparos por harmônicos de drivers eletrônicos.
8. Por que o DR dispara quando ligo o chuveiro, mesmo sem fuga?
Resistências úmidas ou mal isoladas geram corrente de fuga real. Se o valor é próximo de 30 mA, qualquer variação de tensão provoca disparo. Substitua a resistência ou use chuveiro com corpo aterramento adequado.
Conclusão
Você viu que IDR e DDR não são peças genéricas: variam em sensibilidade, classe, número de polos e presença de disjuntor termomagnético. Resumindo:
- 30 mA salva pessoas; 300 mA protege patrimônios.
- Bipolar respira em redes monofásicas; tetrapolar domina trifásico.
- Classe A lida com eletrônica moderna; Classe AC basta para cargas resistivas.
- IDR exige disjuntor separado; DDR já incorpora essa defesa.
- Teste mensal e manutenção preventiva garantem longevidade.
Agora é sua vez: revise seus quadros, aplique as tabelas deste artigo e escolha o dispositivo correto.
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Créditos: Conteúdo inspirado no vídeo “Tipos de IDR e DDR – conheça todas as diferenças” do canal Eletricidade Online, em parceria com a JNG Materiais Elétricos.
 
								 
															 
								


